terça-feira, 22 de junho de 2010

Seu Manoel

O barulho da minha rua chega logo cedinho, com o caminhão do construtor que trabalha lá do outro lado… também tem os pássaros, dos quais não sei o nome, mas que se agrupam na grande árvore da esquina e ali revoam fazendo sons esquisitos, mas tão familiares e reconfortantes como a eterna xícara de café quente de todas as manhãs. O som do carrinho do Seu Manoel era assim, com uma roda só ia cantando nos sulcos do asfalto judiado, enquanto o simpático condutor desfilava seu riso e voz dizendo: “Bom dia, vamos trabalhar!” e para mim bastava, era um sinal que estava tudo bem e já podia saudar meu dia, confiando na sua promessa, de que ele seria feliz. Tudo junto me abraçava com um confortante sentimento de permanência e então suspirava aliviada e segura. Um dia ouvi seu Manoel dizendo ao moço do correio sua idade: 93 anos e enquanto o moço enfezado reclamava do sol e dizia: “O senhor não acha que está na hora de parar?”, ele alegremente respondia: – De jeito nenhum, isto só acontecerá quando Ele conseguir deter- me, sorria apontando o céu, porque eu sou muito teimoso! Assim seu Manoel ia recolhendo reciclados, enchendo seu carrinho e aumentando a melodia chorosa de sua roda, enquanto limpava as casas, com toda a sorte de embalagens vazias. Ultimamente não tenho mais ouvido sua voz… nem o som do seu carrinho que tanto embalou meus dias … coragem me falta para perguntar o seu silêncio, então eu que gosto muito de rezar, fico pedindo a Deus uma nuvem bem grande e macia, que tenha um perfume suave de eterna amizade para embalar seu corpo cansado… também uma estrela, a mais bonita, para encantar seus olhos … e se ele puder ouvir meu coração e escutar a sua voz saberá, que para mim, sua vida na rotina de meus dias foi um lindo presente e que nesta imensa família humana, para mim, ele foi um ponto de luz.
Sonia Guzzi

Esse foi um artigo que saiu em uns dos jornais mais importantes da minha cidade(Araraquara/SP).
A homenagem fico linda , e sim, pra nós da família, Seu Manoel , ou como todos o chamam de 'vô', ele continua sendo e sempre será o nosso ponto de luz, pois nunca o ouvimos reclamar da vida, sempre nos transmitindo muito amor e carinho e otimismo.
E ele é uma das provas que nem sempre precisamos ser 100% adultos, pois com 94 anos, ainda cultiva a criança dentro de si, sempre nos fazendo sorrir ,e a cada frase dita, uma lição de vida. Sempre ensinando, e nunca aprendendo, esse é o meu vô, meu herói.

Um comentário: